Quando pensamos na Serra Gaúcha, logo vêm à mente imagens de vinhedos, casas de pedra e mesas fartas de polenta e galeto. Mas, na verdade, tudo isso só existe por causa de uma história que começou há 150 anos, quando os primeiros italianos chegaram ao Rio Grande do Sul em busca de uma vida melhor.
Em 2025, celebramos esse marco: um século e meio desde a chegada dos primeiros imigrantes italianos ao sul do Brasil. Um movimento que transformou a sociedade e a economia do estado, e que, até hoje, molda a cultura, os costumes e a identidade de quem vive por aqui.
Por que tantos italianos vieram parar no Sul do Brasil?
No final do século XIX, a Itália havia acabado de se unificar, mas o norte do país enfrentava uma grave crise, com fome, guerras, desemprego e poucas oportunidades. Foi nesse contexto que muitas famílias, especialmente das regiões do Vêneto, Lombardia e Tirol Meridional, passaram a enxergar no Brasil uma chance de recomeçar.
Do outro lado do Atlântico, o Brasil passava por um momento de expansão territorial e precisava de mão de obra europeia para povoar áreas pouco habitadas, fortalecer a agricultura e proteger suas fronteiras. Assim nasceu o projeto de colonização no Sul, e os italianos logo se tornaram os protagonistas dessa grande mudança.
As primeiras colônias
Foi em 1875 que os primeiros imigrantes desembarcaram no Rio Grande e seguiram até Porto Alegre, de onde foram encaminhados para áreas rurais como a Colônia Conde d’Eu (atual Garibaldi) e Dona Isabel (atual Bento Gonçalves). Com o tempo, outras colônias foram surgindo, como Caxias do Sul, Farroupilha (antiga Nova Milano), Flores da Cunha e Silveira Martins.
Essas colônias foram implantadas em áreas de mata fechada e relevo acidentado, exigindo muito dos que ali chegavam. Era tarefa dos próprios imigrantes abrir caminhos, erguer suas casas e tornar a terra bruta em lavoura.
Para isso, cada família recebia um lote, geralmente entre 20 e 30 hectares, para plantar milho, feijão, batata e garantir o sustento. Ao longo dos anos, a produção foi se diversificando, e o cultivo da uva começou a ganhar destaque nas pequenas propriedades, até se tornar a base da vinicultura que, hoje, é um dos maiores orgulhos da região.
Legado cultural
Com o tempo, as colônias fundadas pelos imigrantes italianos se transformaram em cidades. Mas a contribuição deixada por esse povo vai além das lavouras e das indústrias, estando gravada na alma do Rio Grande do Sul.
A influência italiana está em toda parte, no sotaque cantado de quem vive na Serra, na arquitetura das casas de pedra e madeira, na culinária, nas cantinas familiares, nas festas de igreja e nas receitas que passam de geração em geração. Está também na hospitalidade, na religiosidade e, claro, no orgulho de manter vivas as tradições trazidas do outro lado do oceano.
Um dos maiores símbolos dessa cultura é a Festa da Uva, que acontece desde 1931 em Caxias do Sul. Ela é um reconhecimento ao trabalho, à coragem e à alegria de ser descendente de italiano.
Essa herança também se manifesta na língua. O dialeto vêneto, conhecido localmente como “talian”, ainda é falado em muitas comunidades da região. Em 2010, foi oficialmente reconhecido como Referência Cultural Brasileira e, desde então, é preservado por rádios comunitárias, corais, grupos folclóricos e associações culturais.
150 anos de história e italianidade
Neste momento especial, é importante reconhecer o quanto essa trajetória moldou o estado, na cultura, na economia e, principalmente, no jeito de viver.
A imigração italiana mantém vivas memórias no dia a dia, nas histórias de família, nos sotaques que ainda ecoam e nas tradições que seguem firmes. Não é apenas passado, é presença.
Ser descendente de italianos no Sul é carregar um legado que vai além do sobrenome. É valorizar as raízes, manter os vínculos e continuar passando adiante tudo o que foi construído com tanto esforço e carinho.